Um transtorno da
personalidade é um padrão persistente, estável, generalizado e inflexível no modo
de sentir, pensar e se comportar, que desvia acentuadamente das expectativas da
cultura na qual o indivíduo está inserido (American Psychiatric Association, 2002).
Os transtornos da personalidade têm como características centrais alterações significativas
em, pelo menos, duas áreas dentre quatro em potencial. Sendo essas:
· cognição,
· afetividade,
· funcionamento
interpessoal e
· controle dos
impulsos.
Esse conjunto de
manifestações clínicas provoca um grau significativo de sofrimento ou prejuízo funcional
na vida do indivíduo.
O Transtorno da
Personalidade Borderline (TPB) ou limítrofe é marcado por um padrão instável com
relação aos afetos, aos relacionamentos interpessoais e à autoimagem.
Trata-se do transtorno
da personalidade mais prevalente. Indivíduos com essa desordem costumam apresentar
comportamentos agressivos e impulsivos, além de atitudes autodestrutivas, incluindo
tentativas de suicídio. A instabilidade presente nesse quadro frequentemente
desorganiza a vida familiar, profissional e o próprio senso de identidade do sujeito.
O TPB é
caracterizado no DSM-IV-TR da seguinte
forma:
(1)
realização
de grandes esforços no sentido de evitar um abandono real ou imaginário;
(2)
padrões de relacionamento instáveis e intensos;
(3)
distúrbio
da identidade caracterizado pelo sentimento de self acentuado e
persistentemente instável;
(4)
impulsividade
em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais para si próprio, como por
exemplo: gastos financeiros, sexo, abuso de substâncias, direção imprudente,
comer compulsivo;
(5)
comportamentos, gestos ou ameaças suicidas, ou
comportamento automutilante;
(6)
instabilidade afetiva, devido a uma acentuada
reatividade do humor;
(7)
sentimento
crônico de vazio;
(8)
expressão
frequente de raiva intensa e inadequada ou dificuldade de controlar a raiva;
(9)
ideação
paranoide ou sintomas dissociativos transitórios durante períodos de estresse.
Muitos fatores têm
sido considerados na origem desse transtorno. Dentre os mais citados na
literatura estão presentes: predisposição genética, desenvolvimento
neurobiológico, condições ambientais de desenvolvimento infantil, dentre outras,
mas podemos citar, especialmente, a presença de experiências de abuso e
negligência na infância.
As experiências traumáticas infantis com
relação a abusos sexuais têm se demonstrado como um dos fatores preditores de
TPB (Bradley et al., 2005). O abuso sexual como fator preditor de TPB é tão
dramático que a prevalência estimada de ocorrência de histórico dessa
experiência traumática – no decorrer da infância - em indivíduos com TPB gira
em torno dos 75% (Fruzzetti, Schenk & Hoffman, 2005).
A prevalência do TPB
situa-se entre 30 e 60% dos indivíduos com transtornos da personalidade, sendo
que a maioria das pessoas com TPB são mulheres.
Indivíduos com TPB
costumam apresentar mudanças comportamentais repentinas e intensas, com
episódios de raiva, depressão e ansiedade, que podem vir acompanhados de abuso
de álcool, drogas, ou mesmo por comportamentos autodestrutivos (presentes em
75% dos pacientes) expressos na forma de mutilações e tentativas de suicídio
(Soloff et al., 2005).
Apresentam, também,
frequentemente relacionamentos instáveis que podem passar de uma idealização
para uma desvalorização imediata; são muito sensíveis à rejeição e apresentam
um temor muito grande frente à possibilidade de abandono.
As alterações
neurobiológicas, como um fator componente do TPB, já vêm sendo estudadas há
alguns anos como, por exemplo, na hipótese do modelo biopsicossocial jacksoniano,
no qual se sugere que as experiências traumáticas na infância interferem no processo
de maturação das conexões cerebrais, em especial a do córtex frontal, gerando
dessa forma os sintomas característicos do TPB (Meares, Stevenson & Gordon,
1999).
Ou seja, segundo
esse modelo, essa interferência ambiental precoce acarretaria em um
desenvolvimento deficitário das conexões cerebrais dos sujeitos portadores de
TPB. Sendo assim, o paciente borderline tem dificuldades laborais, conjugais
e/ou para vencer as etapas habituais da vida. Sendo assim, o terapeuta ocupacional
deve atuar em tais dificuldades, com o uso de atividades simples, prazerosas,
que possibilitem o retorno gratificante a tais indivíduos, melhorando assim,
sua auto-estima e suas relações interpessoais. Nesses casos, atividades produtivas
são aconselhadas.
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